Finalmente, depois de alguns meses, eis que retorno a escrever no Jornal de Rio Pardo.
Abaixo, texto enviado hoje para a edição de 09 de agosto de 2013:
Abaixo, texto enviado hoje para a edição de 09 de agosto de 2013:
Da finalidade da
filosofia
Jaque Plucênio
Pediram-me para definir melhor
filosofia, outro dia. Primeiro pensei: “Quem sou eu, para fazer isso?”; depois
disso, analisando melhor a questão, deduzi que, na verdade, a pessoa quer
entender o seguinte: “Para que filosofia?”
Filosofia não tem sinônimos, tem
conceitos, infindos. E sobre ela é muito pouco dizer que é uma ferramenta para
melhor pensar. Pensar é inerente ao humano, e sempre haverá o tolo e o sábio,
mas o que mais existe são os medianos. Filósofos arrogantes dirão que a
filosofia não servirá para os tolos ou até mesmo para os de inteligência média.
Mas para quem ela servirá, então? Os sábios não a podem detê-la - cometeriam o
crime de não distribuí-la -, pois filosofar é ato livre.
Filosofia é o próprio pensamento, e
não possui amarras. A maior diferença entre um pensar qualquer, de senso comum,
e o pensar filosófico, racional, é que o primeiro não duvida (é crédulo) e não
se preocupa com a verdade, enquanto o segundo põe em dúvida e caça,
incessantemente, a verdade, embora muitas vezes só acerte o tiro de raspão.
Por isso a filosofia tem um momento de
nascimento: século VI a.C. Antes disso, tudo era pensado de forma mítica, ou
seja, a base do pensamento era puramente religiosa, era o que fundamentava toda
causa e, claro, toda consequência de fenômenos da natureza. Hoje, após milhares
de anos parindo filhos importantes para o mundo: física, biologia, medicina,
astronomia, psicologia, política, ética, matemática, sociologia e etc., a
filosofia – a ciência que não é ciência - quer continuar sendo o que ela é: a
dúvida e a procura, a libertária do misticismo, a moderadora, a eliminadora do
fanatismo, a destruidora da intolerância, a redentora das mentes. Para mim,
isso? Claro! Ou para você, também. A filosofia não é o que está estabelecido,
não é o que já foi dito, não é o que se determina. Ela é sempre além, porque há
sempre algo mais e a verdade não chega nunca. Acomode-se, e qualquer tolice que
você chama de verdade poderá engoli-lo rapidinho. Um exemplo: pense no monte de
tolices que querem te vender no facebook, como verdade. Se você comprar uma
dessas inverdades, é você que está sendo comprado. Filosofar é um ato de se
dizer “eu aceito”, ou “eu não aceito” munido da razão. Assim, é preciso cuidado
ao curtir e compartilhar coisas que te oferecem com tanta facilidade, mas sem
fundamentação, pois essa é uma maneira bem nova de prostituir a tua mente.
“A verdadeira filosofia é reaprender a
ver o mundo.”, afirmou Merleau-Ponty. Mas eu conseguiria expor o que cada
filósofo diz sobre a filosofia? Não. Porém, não afaste-se nunca da ideia de que
filosofar é um pensar racional – que ainda hoje pode salvar uma pobre alma
desesperada das inúmeras religiões que vendem um lugar no céu, a apenas quinze
minutos do trono de Deus. Boa é essa definição, de Maria Helena Pires Martins e
Maria Lúcia de Arruda Aranha: “... a filosofia é a possibilidade de transcendência
humana, ou seja, a capacidade de superar a situação dada e não-escolhida. Pela
transcendência, a pessoa surge como ser de projeto, capaz de ser livre e de
construir o seu destino. O distanciamento é justamente o que provoca a nossa
aproximação maior com a vida. (...) A filosofia impede a estagnação.”
Mais não pode ser dito; quantas
páginas eu precisaria? Mas creio que a partir de um começo você já pode seguir
adiante e produzir teu próprio filosofar. Pra onde, mesmo, isso leva? Para a
vida.