segunda-feira, 29 de abril de 2013

Palestra da filósofa Marcia Tiburi

Dia 26 de abril de 2013 aconteceu em Santa Cruz do Sul/RS, no auditório central da UNISC, palestra da filósofa e escritora gaúcha radicada em São Paulo Marcia Tiburi. Sua fala excepcional, sua clareza, cultura e inteligência calaram o lugar. Tiburi tratou de ética, politica e educação. Eu estava lá! Sinto-me gratificada!

Marcia Tiburi após ser apresentada pelo também filósofo e escritor prof. Dr. Sérgio Schaefer.

Boa de fôlego, falou em torno de 3 horas para uma plateia entusiasmada.

Tiburi e Schaefer atentos às colocações dos espectadores.

Os futuros filósofos Sérgio Hauth e Jovana Rodrigues, eu (uma filosofante) e os eternos filósofos Tiburi e Schaefer.

Dentre as falas de Marcia Tiburi, pesquei algumas para dividir aqui:

"Ser filósofo no Brasil é uma coisa muito esquisita." Para os outros, claro.
"Escreve a tua filosofia, pois outra pessoa não pode fazê-lo."
"Filosofia só faz sentido se for entre nós, não para nós."
"A Filosofia é uma experiência que envolve linguagem e pensamento e se dá através das pessoas."

O significado maior de "filia" é "a capacidade de conviver com o outro", e isso é muito mais que o amor banalizado da atualidade; vai além da ideia de "amante". Podemos, assim, mais ou menos dizer que filosofia é a sabedoria da convivência. Pode ser... Melhor: a busca à convivência com sabedoria.

"Amigo é aquele com quem eu posso pensar junto."
"Os logos das pessoas transitam e criam algo novo."
"É do logos articulado pela voz que o homem se torna um animal político."
"Trocamos a palavra 'política' pela palavra 'cidadania', porque a primeira foi gasta, foi maltratada."
"O que eu estou fazendo com os outros? O que nós estamos fazendo uns com os outros?"
"Uma sociedade que não sabe reconhecer a diferença é uma sociedade fundada no ódio."





sexta-feira, 26 de abril de 2013

Fragmento de "Epicuro: o filósofo da alegria"

Fragmento do ensaio Epicuro: o filósofo da alegria, de Jorge Alberto Molina, em A Filosofia e a felicidade: o que os filósofos têm pensado sobre a felicidade humana, p. 45, organizadora Suzana Guerra Albornoz. - Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004:

"Vimos que, para Epicuro, a tarefa da Filosofia é dissolver os medos que nos impedem de ser felizes. Em relação à morte, Epicuro afirmava: 'Habitua-te a pensar que a morte nada é para nós, visto que todo o mal e todo o bem se encontram na sensibilidade: e a morte é a privação da sensibilidade'. Devemos deixar de pensar na morte. 'É insensato aquele que diz temer a morte, não porque ela o aflija quando sobrevier, mas porque o aflige o prevê-la: o que não nos perturba quando está presente inutilmente nos perturba também quando a esperamos'. Platão, no Fedon, ensina-nos a libertar-nos do medo da morte, ensinando-nos que a alma é imortal. Pelo contrário, Epicuro, invertendo a posição platônica, afirmava a materialidade da alma, que, para ele, é composta de átomos sutis que se dissolvem no momento da morte. O que nos provoca medo da morte, segundo Epicuro, é o temor do sofrimento e da possibilidade de um além onde a psyché poderia ser objeto da vingança dos deuses. Mas não há sofrimento onde não há sensibilidade, nem para além da psyché, pois esta se dissolve no momento da morte. Vale a pena citar um trecho da carta de Menaceno, onde Epicuro esclarece ainda mais seus pensamentos sobre a morte.

'Por isso o reto conhecimento de que a morte não é nada para nós torna alegre a própria condição mortal de nossa vida, não prolongando indefinidamente o tempo, mas suprimindo o desejo de imortalidade. Nada há de temível no viver para quem se tenha verdadeiramente convencido de que nada de temível há em não mais viver. E assim também é estulto quem afirma temer a morte, não porque lhe trará dor ao chegar, mas porque traz dor o fato de saber que chegará: o que não faz sofrer quando chega, é vão que nos traga dor na espera. O mais terrível dos males, portanto a morte, não é nada para nós, uma vez que quando somos, a morte não é, e quando ela chega nós não somos mais. Ela não tem nenhum significado nem para os vivos nem para os mortos, porque para uns não é nada, e, quanto aos outros, eles não são mais. [...]. O sábio, ao invés, não pede para viver nem teme não viver: não é contrário à vida, mas também não considera que a morte seja um mal.'"

- GUARDANDO NA CACHOLA
- cachola (da linguagem popular): cabeça, cérebro, mente;
- estulto (do míni dicionário Aurélio): tolo;
- Epicuro (do Dicionário dos Filósofos, de Huisman): Epicuro foi cidadão ateniense e viveu de 341-271 a.C. Em seu Jardim organizou uma escola com a família e discípulos e ali fez grande produção filosófica, com pouco contato com o mundo exterior. Sua filosofia dividia-se em 3 partes: canônica (sobre as regras e critérios dos juízos de realidade e de valor), a física e a ética. Sobre o temor da morte, acrescenta que o epicurista conforta-se nos bens que se podem chamar de imortais, como a amizade, que Epicuro considera o mais precioso. "A amizade transcende o egoísmo de seus fundamentos, a ponto de poder-se dizer que a morte do amigo não é um mal para nós, pois que não o é  para ele."

Epicuro

Há um certo conforto em mim quando penso que depois de tudo, nada há. Vou partir, apenas, e deixar de existir. E ficarão as sementes de minhas ações e palavras. Repousarei minha carne e meus ossos, meu espírito dissipar-se-á e voltarei, enfim, ao pó. Que desconforto sinto quando, por vezes, me assalta a ideia de vida após a morte! Ir para outro lugar! Enfrentar o desconhecido, suportar a dor de estar longe desse mundo! Sim, claro, sou mundana, sou átomo, sou pó! Que medo de ser para sempre!






terça-feira, 23 de abril de 2013

Fragmento de "Os demônios do velho sobrado"

Do conto Os demônios do velho sobrado, p. 57 do meu livro Na guarita e outras palavras de gaveta:
- Em homenagem ao gatinho lá do fim do blog. -

"O velho sobrado estava à venda há muito tempo. Vazio, jazia como que adormecido entre os casarios reformados que lhe faziam divisa. A calçada estreita servia de repouso para cães vadios que se amontoavam em volta de alguma cadela no cio; todos lagarteando ao sol. Um gato sonolento e magro espiava da única janela da fachada, cujas persianas pendiam moribundas de solitárias e enferrujadas dobradiças inferiores. O odor de mofo e poeira acumulada sobre os móveis abandonados e as paredes vazias podia ser sentido da rua. O forro de madeira pendia aqui e ali, deixando passar imensas teias de aranha que se projetavam sobre as peças frias."

O livro está à venda nas livrarias virtuais:
www.asabeca.com.br e

www.livrariacultura.com.br


segunda-feira, 22 de abril de 2013

Fragmento de "Mundo efêmero"

Fragmento da crônica Mundo efêmero, p. 37-38, em Na Guarita e outras palavras de gaveta, Ed. Scortecci, 2013, de minha autoria:

"O que nos conforta é justo isso: que não apenas o bom é efêmero, mas também o que é mal. E, se por um lado nos assustamos com a ideia de que cada um de nós, e todas as coisas, caminham para o seu fim, por outro lado, caminhamos. Estamos em movimento. Estamos vivendo. Mesmo que seja para um dia morrer. Ainda assim algo de nós ficará. A lembrança de belos olhos; o beijo; o abraço; o cheiro; a voz; as coisas que foram ditas; o toque das mãos; tudo que se escreveu... Algo nosso, realmente."
Amy Winehouse, cantora inglesa



sábado, 20 de abril de 2013

Fragmento de "Os outros meios"

Fragmento de conto (p. 106-107) do livro Frente fria, contos de inverno, de 2003, em que assinei como J. T. Souza, com publicação pela Gráfica Saraiva, de Rio Pardo:

"Naquela hora, somente naquela hora em que se observava não soube responder. Por que não era uma simples questão de chegar onde queria; não era uma oportunidade para provar seu talento; não era por que já se achasse velha e nem era, muito menos, uma questão de vida ou morte. Era, na verdade (e descobriu-se impressionada com isso), por que a ambição fervia em suas veias; por que o orgulho jamais lhe permitiria voltar atrás, nem ao menos olhar para trás; por que prometera a si mesma sucesso e felicidade, mesmo sem saber o preço de cada desejo e, por que, principalmente, admitira, diante da própria imagem, olhando com determinação em seus próprios olhos, gostar muito de sexo."


sexta-feira, 19 de abril de 2013

Fragmento de Cartas a Théo

Fragmento de Cartas a Théo, do pintor holandês Vincent Van Gogh (1853-1890), p. 102, Porto Alegre: L&PM, 2012:

Van Gogh escreve esse trecho após descrever ao irmão a sensação que lhe provocara um passeio seu pelos campos e florestas de Leidschendam, no período em que ainda estava na Holanda.

"Esta imagem me fez ver como também um homem de modos e atitudes absurdos ou cheios de excenntricidades e de caprichos, tão logo sinta-se atingido por uma verdadeira ou comovida por uma desventura, pode tornar-se uma figura dramática de um caráter extraordinário. Cheguei a pensar um instante na sociedade atual, em como ela também, enquanto precipita-se para sua própria ruína, pode às vezes, vista por contraste à luz de uma renovação, aparecer por momentos como uma grande e escura silhueta.
Sim, para mim, o drama da tempestade na natureza, o drama da dor na vida, são certamente os mais perfeitos."

A natureza marcava fortemente a Van Gogh. Ele tinha uma sede de entranhar-se na essência das coisas: de uma árvore, de um rio, de uma plantação, de um céu azul ou vermelho. Mas também enternecia-se e tentava traduzir imagens cotidianas de mulheres e homens sofridos com o trabalho miserável no campo e nas minas.
A imagem acima é um autorretrato de Van Gogh.

Aproveitem e visitem o site do Museu Van Gogh:
www.vangoghmuseum.nl



Conceito de metafísica

Segundo o Dicionário Básico de Filosofia, de H. Japiassú e D. Marcondes, da Jorge Zahar Editor, 3ª ed. revista e ampliada, 1996, o termo metafísica tem várias definições. Em si, ele significa "além da física", "após a física". É aquilo que transcende a física e é o tratado do ser enquanto ser, na tradição filosófica clássica. Segundo Schopenhauer, se para Kant a física é fenômeno, a metafísica é a coisa-em-si.

É por aí que vamos. Vamos juntando nossa poeira para depois sacudi-las até os ossos, até que se solte o espírito.

Fragmento de "Luzes"

Fragmento de "Luzes", do livro Na guarita e outras palavras de gaveta, p. 88:

[...] Venha comigo pelo sol,
Esqueça as imagens da ilusão,
Cobre meu corpo com um lençol
E toca a dor do meu coração.
Cura-me a alma ferida...
Cura a esperança perdida!
Faça você o milagre,
Transforma em água o vinagre. [...]

PLUCÊNIO, Jaque. São Paulo: Ed. Scortecci, 2013.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Jaque Plucênio

Olá, pessoal!
Eu sou Jaque Plucênio, florista e escritora licenciada em Filosofia.
Nesse lugar vocês encontrarão poeira de mim, do mundo e, desse modo, de cada um que por aqui passar - ou não. Ou seja, passemos, partamos ou fiquemos - ou mesmo que nem venhamos - somos só poeira indo de um lado para outro, depositando-se aqui e ali; um dia toda essa poeira física será apenas poeira metafísica. É isso o que somos. Somos apenas isso.