sexta-feira, 26 de abril de 2013

Fragmento de "Epicuro: o filósofo da alegria"

Fragmento do ensaio Epicuro: o filósofo da alegria, de Jorge Alberto Molina, em A Filosofia e a felicidade: o que os filósofos têm pensado sobre a felicidade humana, p. 45, organizadora Suzana Guerra Albornoz. - Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004:

"Vimos que, para Epicuro, a tarefa da Filosofia é dissolver os medos que nos impedem de ser felizes. Em relação à morte, Epicuro afirmava: 'Habitua-te a pensar que a morte nada é para nós, visto que todo o mal e todo o bem se encontram na sensibilidade: e a morte é a privação da sensibilidade'. Devemos deixar de pensar na morte. 'É insensato aquele que diz temer a morte, não porque ela o aflija quando sobrevier, mas porque o aflige o prevê-la: o que não nos perturba quando está presente inutilmente nos perturba também quando a esperamos'. Platão, no Fedon, ensina-nos a libertar-nos do medo da morte, ensinando-nos que a alma é imortal. Pelo contrário, Epicuro, invertendo a posição platônica, afirmava a materialidade da alma, que, para ele, é composta de átomos sutis que se dissolvem no momento da morte. O que nos provoca medo da morte, segundo Epicuro, é o temor do sofrimento e da possibilidade de um além onde a psyché poderia ser objeto da vingança dos deuses. Mas não há sofrimento onde não há sensibilidade, nem para além da psyché, pois esta se dissolve no momento da morte. Vale a pena citar um trecho da carta de Menaceno, onde Epicuro esclarece ainda mais seus pensamentos sobre a morte.

'Por isso o reto conhecimento de que a morte não é nada para nós torna alegre a própria condição mortal de nossa vida, não prolongando indefinidamente o tempo, mas suprimindo o desejo de imortalidade. Nada há de temível no viver para quem se tenha verdadeiramente convencido de que nada de temível há em não mais viver. E assim também é estulto quem afirma temer a morte, não porque lhe trará dor ao chegar, mas porque traz dor o fato de saber que chegará: o que não faz sofrer quando chega, é vão que nos traga dor na espera. O mais terrível dos males, portanto a morte, não é nada para nós, uma vez que quando somos, a morte não é, e quando ela chega nós não somos mais. Ela não tem nenhum significado nem para os vivos nem para os mortos, porque para uns não é nada, e, quanto aos outros, eles não são mais. [...]. O sábio, ao invés, não pede para viver nem teme não viver: não é contrário à vida, mas também não considera que a morte seja um mal.'"

- GUARDANDO NA CACHOLA
- cachola (da linguagem popular): cabeça, cérebro, mente;
- estulto (do míni dicionário Aurélio): tolo;
- Epicuro (do Dicionário dos Filósofos, de Huisman): Epicuro foi cidadão ateniense e viveu de 341-271 a.C. Em seu Jardim organizou uma escola com a família e discípulos e ali fez grande produção filosófica, com pouco contato com o mundo exterior. Sua filosofia dividia-se em 3 partes: canônica (sobre as regras e critérios dos juízos de realidade e de valor), a física e a ética. Sobre o temor da morte, acrescenta que o epicurista conforta-se nos bens que se podem chamar de imortais, como a amizade, que Epicuro considera o mais precioso. "A amizade transcende o egoísmo de seus fundamentos, a ponto de poder-se dizer que a morte do amigo não é um mal para nós, pois que não o é  para ele."

Epicuro

Há um certo conforto em mim quando penso que depois de tudo, nada há. Vou partir, apenas, e deixar de existir. E ficarão as sementes de minhas ações e palavras. Repousarei minha carne e meus ossos, meu espírito dissipar-se-á e voltarei, enfim, ao pó. Que desconforto sinto quando, por vezes, me assalta a ideia de vida após a morte! Ir para outro lugar! Enfrentar o desconhecido, suportar a dor de estar longe desse mundo! Sim, claro, sou mundana, sou átomo, sou pó! Que medo de ser para sempre!






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