quarta-feira, 25 de março de 2015

NA GUARITA - Crônica "Porcos Ingratos" de 19 de março de 2015.

Porcos ingratos
               
                Magros e esfomeados porcos viviam num lugar imundo próximo à casa de um homem rico. Os animais maltratados pelo dono comiam todas as imundícies que encontravam pelo caminho para saciar a sua fome. Vendo o homem o sofrimento dos animais, comprou-os do dono cruel e, tirando-os da lama, levou-os para sua propriedade, onde começaram a receber uma alimentação limpa e saudável e um bom lugar limpo e protegido para viver.
                O antigo dono espalhou pela cidade que o rico morador comprara seus porcos inúteis e vinha-os tratando como adoráveis animais de estimação, gastando fortunas para alimentá-los e abrigá-los, coisa que deveria fazer com animais mais nobres, como os cavalos, por exemplo, comentou o velho sovina.
                O homem justo virou motivo de zombarias na cidade. Todos o olhavam com ar cínico, desprezando sua preocupação com animais tolos e barulhentos que gostavam de se revirar na lama. As pessoas gostavam de ofendê-lo, cobrando dele que gastasse seu dinheiro com ações que ajudassem toda a cidade, aí então ele poderia ser visto como um homem generoso, de fato. Furioso com as intervenções, o homem chamou todos seus críticos para que vissem como ele alimentava seus animais. Pela primeira vez, juntou-se aos porcos e, inacreditavelmente foi atirando para eles notas de dinheiro que os animais devoravam avidamente. Vejam, gritava o homem, segurando duas sacolas, os porcos são meus, dou-lhes o que bem entender, dou-lhes dinheiro e dou-lhes joias, eles me são gratos! Dou-lhes essas pérolas que me são caras, o quanto eu tiver; dou-lhes todas!
                Os animais jogaram-se a devorar aquilo tudo, engolindo as pérolas e procurando mais pelo chão. Virando-se, o homem sorriu olhando para a multidão, pensando em sair dali, mas também os porcos viraram-se e arremessaram-se sobre ele, que ainda segurava as sacolas, agora vazias. Desesperados para comerem mais, fosse o que fosse, derrubaram o homem e violenta e desordenadamente, o morderam e sufocaram até que o pobre homem deixasse de respirar, enquanto as outras pessoas olhavam atônitas, umas sentindo medo em ajudar e outras tendo satisfação com o trágico desfecho daquela estranha amizade.
                Finalmente, depois do enterro, os animais foram sacrificados e seus ventres foram abertos. A gente toda atirou-se, tal qual os porcos, sobre suas entranhas, tentando recuperar as pérolas. Quem de longe assistia, podia confundir toda aquela coisa como uma só. Não se sabia o que era gente, o que era porco. Depois de tudo os animais foram esquartejados e assados, virando um grande banquete que alimentou por um dia aquela horda faminta e furiosa.
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25/03/15.

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