terça-feira, 28 de abril de 2015

O RISO DO MENINO - Poesia - Jaque Plucênio - Jornal de Rio Pardo 24 e 25 de abril de 2015

O riso do menino
Jaque Plucênio

O riso com que se ria à exaustão;
O riso como brincadeira de criança;
O riso e o menino cresciam juntos;
O menino grande ria um grande riso.
Ri o menino da graça e sem razão;
O menino ri, ri e não cansa;
Risos soltos de seus mundos;
Ri sem juízo e sem ciso.
O menino ria à loucura;
Gargalhava dos outros e de si;
Riso misto de leveza e dureza;
Alegria bombando nas veias.
Escapou riso triste de tortura;
Lágrimas do menino que não ri;
Dor terrível da incerteza.
Do menino, o riso calado;
No peito, coração apertado;
Olhar vazio e cansado.
Menino, menino, ah, teu riso!
Te abraço, menino; preciso!
Menino, homem grande e criança,
Recebe num abraço a esperança
De ouvir por toda vida teu riso,
De ver para sempre teu sorriso.
(Depois do purgatório II - Claudia Rogge)
Imagem copiada de www.grupodeliriodeteatro.blogspot.com.br/2014/02/satyricon-delirio-claudia-rogge.html, em 28 de abril de 2015.







sábado, 11 de abril de 2015

VOANDO PARA O FIM

Voando para o fim
Jaque Plucênio
            Num episódio do programa Como funciona o universo, do canal Discovery HD Theater, os físicos estão tratando sobre as nuvens de gases das galáxias. Eles explicam que essas nuvens gigantescas que circulam a Via Láctea são sugadas pelo gigantesco buraco negro que se “esconde” no núcleo da mesma. Em pesquisa, descobri que esse buraco negro chama-se Sagitário A* (Sagitário A estrela) e que realmente ele se alimenta de tudo que circunda o eixo da galáxia. Se quisermos entender melhor, pensemos numa pia cheia de água, cujo ralo está fechado. Ao abrirmos o ralo, a água girará em círculos, formando um redemoinho, até que tudo se extinga no centro da vasilha. A força gravitacional do buraco negro devora toda matéria. Bem, os físicos dizem que a Terra não corre esse risco, embora gire nesse redemoinho!!!
         Outras forças gravitacionais que ajudarão na extinção do planeta Terra – na verdade toda a Via Láctea – são a da própria galáxia e a da galáxia vizinha, Andrômeda. Ambas viajam em velocidade inimaginável em direção uma da outra, numa atração física que faria inveja ao mais apaixonado dos casais. Quando isso acontecer, elas entrarão numa dança violenta, chocando-se diversas vezes até que se pulverizem mutuamente.
         Esses dados fortalecem minha teoria de que a Terra, junto com toda a galáxia, movimenta-se cada vez mais rapidamente. Por isso os dias passam cada vez mais velozes e por isso vemos o ano terminar quando recém iniciou. E voamos velozmente para o centro da Via Láctea, como se tivéssemos sido primeiro chutados contra a parede e depois retornado com maior agressividade para o ponto de onde havia partido. Partimos para o fim e ele é irremediável.
         Mas – detalhe - não percam o sono. Isso provavelmente acontecerá daqui a 4 bilhões de anos, ou menos, conforme aumenta a velocidade da galáxia (velocidade de  repuxo de Sagitário A* e Andrômeda). E não temos mesmo com o que nos preocupar, pois nem nossos tatatatatatatataranetos estarão aqui. Olhem... vou dizer uma coisa... acho que nada que se possa chamar de humano ainda andará sobre a face da Terra em tempos para mim que, certamente, serão ainda mais obscuros que o de agora e do passado. Consideremos a falência da educação; a intolerância; o fanatismo; o consumismo; a poluição... Não, ih! Muito antes disso já teremos sumido desse mundo.

 Imagem copiada de www.mpsnet.net

sábado, 28 de março de 2015

NA GUARITA - Crônica BORDA DE NUVENS, 05 de março de 2015.

Borda de nuvens

        
         O sol brilha sobre nós, impiedoso. À volta da cidade, nuvens ora cinzentas, ora negras, criam uma bordadura sufocante e angustiante no cenário. O calor torturante instala-se como um bafo fugindo de uma panela fervente. As pesadas nuvens apertam um sorriso de bochechas gordas e vão esticando seus corpos de celulites e estrias como se fossem explodir em temporais a qualquer momento. Subitamente, elas param, ficando ali imóveis, sem trovões ou raios, sem desfazerem-se em chuva ou, então, são empurradas por ventos que as irão derrubar sobre outros lugares.
         Lá embaixo, nós. Nós, iluminados e castigados por um sol causticante, atormentados por uma bordadura de nuvens escuras que nos cobre de sombras, mas sem nos libertar do exaustivo calor.
         A sensação de luz deveria nos confortar, posto que nos permite saber por onde ir; a borda de nuvens deveria nos confortar, visto que, transformada em chuva, nos aliviaria, nos refrescaria.  A imagem de nuvens negras nos rodeando, nos permitindo andar por alguns raios de sol, nos condena ao fardo da seca. Começamos a pensar: não choverá, não refrescará; as nuvens irão embora; as plantas não sorrirão; o sol vai rir de nós.
         Eu queria olhar para a borda de nuvens e ordenar: dissipem-se, afinem-se em gotas de chuva, tragam-me a luz do sol sem a dor. Que o sol ilumine sem doer; que as nuvens cresçam e alcancem seu fim, que é chover; que a chuva seja de bênçãos; que a escuridão não exista; que a razão predomine; que os meios cheguem aos seus fins e que os fins não justifiquem os meios, porque nem sempre é justo – quase nunca é -; porque a borda de nuvens imóvel e imutável é tão sem finalidade quanto o sol que mais queima do que ilumina; é tão sem finalidade quanto a oração de quem não ama; tão sem fim quanto pedir perdão sem arrependimento e mudança; tão sem fim quanto esperar compaixão sem ser humilde.

         Acontece, então, que, mesmo assim, eu tenho olhado para o céu e acreditado, mesmo com medo, mesmo com tristeza, mesmo suando em pipas, que o sol me trará luz, sem machucar, e que as nuvens que me rodeiam e assustam se tornarão apenas, e tão somente, uma fresca chuva que levará embora todas as lágrimas que eu derrubar.
Imagem copiada de pt.wikipedia.org em 28 de março de 2015.

quarta-feira, 25 de março de 2015

NA GUARITA - Crônica "Porcos Ingratos" de 19 de março de 2015.

Porcos ingratos
               
                Magros e esfomeados porcos viviam num lugar imundo próximo à casa de um homem rico. Os animais maltratados pelo dono comiam todas as imundícies que encontravam pelo caminho para saciar a sua fome. Vendo o homem o sofrimento dos animais, comprou-os do dono cruel e, tirando-os da lama, levou-os para sua propriedade, onde começaram a receber uma alimentação limpa e saudável e um bom lugar limpo e protegido para viver.
                O antigo dono espalhou pela cidade que o rico morador comprara seus porcos inúteis e vinha-os tratando como adoráveis animais de estimação, gastando fortunas para alimentá-los e abrigá-los, coisa que deveria fazer com animais mais nobres, como os cavalos, por exemplo, comentou o velho sovina.
                O homem justo virou motivo de zombarias na cidade. Todos o olhavam com ar cínico, desprezando sua preocupação com animais tolos e barulhentos que gostavam de se revirar na lama. As pessoas gostavam de ofendê-lo, cobrando dele que gastasse seu dinheiro com ações que ajudassem toda a cidade, aí então ele poderia ser visto como um homem generoso, de fato. Furioso com as intervenções, o homem chamou todos seus críticos para que vissem como ele alimentava seus animais. Pela primeira vez, juntou-se aos porcos e, inacreditavelmente foi atirando para eles notas de dinheiro que os animais devoravam avidamente. Vejam, gritava o homem, segurando duas sacolas, os porcos são meus, dou-lhes o que bem entender, dou-lhes dinheiro e dou-lhes joias, eles me são gratos! Dou-lhes essas pérolas que me são caras, o quanto eu tiver; dou-lhes todas!
                Os animais jogaram-se a devorar aquilo tudo, engolindo as pérolas e procurando mais pelo chão. Virando-se, o homem sorriu olhando para a multidão, pensando em sair dali, mas também os porcos viraram-se e arremessaram-se sobre ele, que ainda segurava as sacolas, agora vazias. Desesperados para comerem mais, fosse o que fosse, derrubaram o homem e violenta e desordenadamente, o morderam e sufocaram até que o pobre homem deixasse de respirar, enquanto as outras pessoas olhavam atônitas, umas sentindo medo em ajudar e outras tendo satisfação com o trágico desfecho daquela estranha amizade.
                Finalmente, depois do enterro, os animais foram sacrificados e seus ventres foram abertos. A gente toda atirou-se, tal qual os porcos, sobre suas entranhas, tentando recuperar as pérolas. Quem de longe assistia, podia confundir toda aquela coisa como uma só. Não se sabia o que era gente, o que era porco. Depois de tudo os animais foram esquartejados e assados, virando um grande banquete que alimentou por um dia aquela horda faminta e furiosa.
Resultado de imagem para homens devorando porcos

 Imagem copiada de parana-online.com.br em 
25/03/15.