Porcos ingratos
Magros e esfomeados porcos
viviam num lugar imundo próximo à casa de um homem rico. Os animais maltratados
pelo dono comiam todas as imundícies que encontravam pelo caminho para saciar a
sua fome. Vendo o homem o sofrimento dos animais, comprou-os do dono cruel e,
tirando-os da lama, levou-os para sua propriedade, onde começaram a receber uma
alimentação limpa e saudável e um bom lugar limpo e protegido para viver.
O antigo dono espalhou pela
cidade que o rico morador comprara seus porcos inúteis e vinha-os tratando como
adoráveis animais de estimação, gastando fortunas para alimentá-los e
abrigá-los, coisa que deveria fazer com animais mais nobres, como os cavalos,
por exemplo, comentou o velho sovina.
O homem justo virou motivo de
zombarias na cidade. Todos o olhavam com ar cínico, desprezando sua preocupação
com animais tolos e barulhentos que gostavam de se revirar na lama. As pessoas
gostavam de ofendê-lo, cobrando dele que gastasse seu dinheiro com ações que
ajudassem toda a cidade, aí então ele poderia ser visto como um homem generoso,
de fato. Furioso com as intervenções, o homem chamou todos seus críticos para
que vissem como ele alimentava seus animais. Pela primeira vez, juntou-se aos
porcos e, inacreditavelmente foi atirando para eles notas de dinheiro que os
animais devoravam avidamente. Vejam, gritava o homem, segurando duas sacolas, os
porcos são meus, dou-lhes o que bem entender, dou-lhes dinheiro e dou-lhes
joias, eles me são gratos! Dou-lhes essas pérolas que me são caras, o quanto eu
tiver; dou-lhes todas!
Os animais jogaram-se a devorar
aquilo tudo, engolindo as pérolas e procurando mais pelo chão. Virando-se, o
homem sorriu olhando para a multidão, pensando em sair dali, mas também os
porcos viraram-se e arremessaram-se sobre ele, que ainda segurava as sacolas,
agora vazias. Desesperados para comerem mais, fosse o que fosse, derrubaram o
homem e violenta e desordenadamente, o morderam e sufocaram até que o pobre
homem deixasse de respirar, enquanto as outras pessoas olhavam atônitas, umas
sentindo medo em ajudar e outras tendo satisfação com o trágico desfecho
daquela estranha amizade.
Finalmente, depois do enterro,
os animais foram sacrificados e seus ventres foram abertos. A gente toda
atirou-se, tal qual os porcos, sobre suas entranhas, tentando recuperar as
pérolas. Quem de longe assistia, podia confundir toda aquela coisa como uma só.
Não se sabia o que era gente, o que era porco. Depois de tudo os animais foram
esquartejados e assados, virando um grande banquete que alimentou por um dia
aquela horda faminta e furiosa.
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25/03/15.