terça-feira, 28 de abril de 2015

O RISO DO MENINO - Poesia - Jaque Plucênio - Jornal de Rio Pardo 24 e 25 de abril de 2015

O riso do menino
Jaque Plucênio

O riso com que se ria à exaustão;
O riso como brincadeira de criança;
O riso e o menino cresciam juntos;
O menino grande ria um grande riso.
Ri o menino da graça e sem razão;
O menino ri, ri e não cansa;
Risos soltos de seus mundos;
Ri sem juízo e sem ciso.
O menino ria à loucura;
Gargalhava dos outros e de si;
Riso misto de leveza e dureza;
Alegria bombando nas veias.
Escapou riso triste de tortura;
Lágrimas do menino que não ri;
Dor terrível da incerteza.
Do menino, o riso calado;
No peito, coração apertado;
Olhar vazio e cansado.
Menino, menino, ah, teu riso!
Te abraço, menino; preciso!
Menino, homem grande e criança,
Recebe num abraço a esperança
De ouvir por toda vida teu riso,
De ver para sempre teu sorriso.
(Depois do purgatório II - Claudia Rogge)
Imagem copiada de www.grupodeliriodeteatro.blogspot.com.br/2014/02/satyricon-delirio-claudia-rogge.html, em 28 de abril de 2015.







sábado, 11 de abril de 2015

VOANDO PARA O FIM

Voando para o fim
Jaque Plucênio
            Num episódio do programa Como funciona o universo, do canal Discovery HD Theater, os físicos estão tratando sobre as nuvens de gases das galáxias. Eles explicam que essas nuvens gigantescas que circulam a Via Láctea são sugadas pelo gigantesco buraco negro que se “esconde” no núcleo da mesma. Em pesquisa, descobri que esse buraco negro chama-se Sagitário A* (Sagitário A estrela) e que realmente ele se alimenta de tudo que circunda o eixo da galáxia. Se quisermos entender melhor, pensemos numa pia cheia de água, cujo ralo está fechado. Ao abrirmos o ralo, a água girará em círculos, formando um redemoinho, até que tudo se extinga no centro da vasilha. A força gravitacional do buraco negro devora toda matéria. Bem, os físicos dizem que a Terra não corre esse risco, embora gire nesse redemoinho!!!
         Outras forças gravitacionais que ajudarão na extinção do planeta Terra – na verdade toda a Via Láctea – são a da própria galáxia e a da galáxia vizinha, Andrômeda. Ambas viajam em velocidade inimaginável em direção uma da outra, numa atração física que faria inveja ao mais apaixonado dos casais. Quando isso acontecer, elas entrarão numa dança violenta, chocando-se diversas vezes até que se pulverizem mutuamente.
         Esses dados fortalecem minha teoria de que a Terra, junto com toda a galáxia, movimenta-se cada vez mais rapidamente. Por isso os dias passam cada vez mais velozes e por isso vemos o ano terminar quando recém iniciou. E voamos velozmente para o centro da Via Láctea, como se tivéssemos sido primeiro chutados contra a parede e depois retornado com maior agressividade para o ponto de onde havia partido. Partimos para o fim e ele é irremediável.
         Mas – detalhe - não percam o sono. Isso provavelmente acontecerá daqui a 4 bilhões de anos, ou menos, conforme aumenta a velocidade da galáxia (velocidade de  repuxo de Sagitário A* e Andrômeda). E não temos mesmo com o que nos preocupar, pois nem nossos tatatatatatatataranetos estarão aqui. Olhem... vou dizer uma coisa... acho que nada que se possa chamar de humano ainda andará sobre a face da Terra em tempos para mim que, certamente, serão ainda mais obscuros que o de agora e do passado. Consideremos a falência da educação; a intolerância; o fanatismo; o consumismo; a poluição... Não, ih! Muito antes disso já teremos sumido desse mundo.

 Imagem copiada de www.mpsnet.net

sábado, 28 de março de 2015

NA GUARITA - Crônica BORDA DE NUVENS, 05 de março de 2015.

Borda de nuvens

        
         O sol brilha sobre nós, impiedoso. À volta da cidade, nuvens ora cinzentas, ora negras, criam uma bordadura sufocante e angustiante no cenário. O calor torturante instala-se como um bafo fugindo de uma panela fervente. As pesadas nuvens apertam um sorriso de bochechas gordas e vão esticando seus corpos de celulites e estrias como se fossem explodir em temporais a qualquer momento. Subitamente, elas param, ficando ali imóveis, sem trovões ou raios, sem desfazerem-se em chuva ou, então, são empurradas por ventos que as irão derrubar sobre outros lugares.
         Lá embaixo, nós. Nós, iluminados e castigados por um sol causticante, atormentados por uma bordadura de nuvens escuras que nos cobre de sombras, mas sem nos libertar do exaustivo calor.
         A sensação de luz deveria nos confortar, posto que nos permite saber por onde ir; a borda de nuvens deveria nos confortar, visto que, transformada em chuva, nos aliviaria, nos refrescaria.  A imagem de nuvens negras nos rodeando, nos permitindo andar por alguns raios de sol, nos condena ao fardo da seca. Começamos a pensar: não choverá, não refrescará; as nuvens irão embora; as plantas não sorrirão; o sol vai rir de nós.
         Eu queria olhar para a borda de nuvens e ordenar: dissipem-se, afinem-se em gotas de chuva, tragam-me a luz do sol sem a dor. Que o sol ilumine sem doer; que as nuvens cresçam e alcancem seu fim, que é chover; que a chuva seja de bênçãos; que a escuridão não exista; que a razão predomine; que os meios cheguem aos seus fins e que os fins não justifiquem os meios, porque nem sempre é justo – quase nunca é -; porque a borda de nuvens imóvel e imutável é tão sem finalidade quanto o sol que mais queima do que ilumina; é tão sem finalidade quanto a oração de quem não ama; tão sem fim quanto pedir perdão sem arrependimento e mudança; tão sem fim quanto esperar compaixão sem ser humilde.

         Acontece, então, que, mesmo assim, eu tenho olhado para o céu e acreditado, mesmo com medo, mesmo com tristeza, mesmo suando em pipas, que o sol me trará luz, sem machucar, e que as nuvens que me rodeiam e assustam se tornarão apenas, e tão somente, uma fresca chuva que levará embora todas as lágrimas que eu derrubar.
Imagem copiada de pt.wikipedia.org em 28 de março de 2015.

quarta-feira, 25 de março de 2015

NA GUARITA - Crônica "Porcos Ingratos" de 19 de março de 2015.

Porcos ingratos
               
                Magros e esfomeados porcos viviam num lugar imundo próximo à casa de um homem rico. Os animais maltratados pelo dono comiam todas as imundícies que encontravam pelo caminho para saciar a sua fome. Vendo o homem o sofrimento dos animais, comprou-os do dono cruel e, tirando-os da lama, levou-os para sua propriedade, onde começaram a receber uma alimentação limpa e saudável e um bom lugar limpo e protegido para viver.
                O antigo dono espalhou pela cidade que o rico morador comprara seus porcos inúteis e vinha-os tratando como adoráveis animais de estimação, gastando fortunas para alimentá-los e abrigá-los, coisa que deveria fazer com animais mais nobres, como os cavalos, por exemplo, comentou o velho sovina.
                O homem justo virou motivo de zombarias na cidade. Todos o olhavam com ar cínico, desprezando sua preocupação com animais tolos e barulhentos que gostavam de se revirar na lama. As pessoas gostavam de ofendê-lo, cobrando dele que gastasse seu dinheiro com ações que ajudassem toda a cidade, aí então ele poderia ser visto como um homem generoso, de fato. Furioso com as intervenções, o homem chamou todos seus críticos para que vissem como ele alimentava seus animais. Pela primeira vez, juntou-se aos porcos e, inacreditavelmente foi atirando para eles notas de dinheiro que os animais devoravam avidamente. Vejam, gritava o homem, segurando duas sacolas, os porcos são meus, dou-lhes o que bem entender, dou-lhes dinheiro e dou-lhes joias, eles me são gratos! Dou-lhes essas pérolas que me são caras, o quanto eu tiver; dou-lhes todas!
                Os animais jogaram-se a devorar aquilo tudo, engolindo as pérolas e procurando mais pelo chão. Virando-se, o homem sorriu olhando para a multidão, pensando em sair dali, mas também os porcos viraram-se e arremessaram-se sobre ele, que ainda segurava as sacolas, agora vazias. Desesperados para comerem mais, fosse o que fosse, derrubaram o homem e violenta e desordenadamente, o morderam e sufocaram até que o pobre homem deixasse de respirar, enquanto as outras pessoas olhavam atônitas, umas sentindo medo em ajudar e outras tendo satisfação com o trágico desfecho daquela estranha amizade.
                Finalmente, depois do enterro, os animais foram sacrificados e seus ventres foram abertos. A gente toda atirou-se, tal qual os porcos, sobre suas entranhas, tentando recuperar as pérolas. Quem de longe assistia, podia confundir toda aquela coisa como uma só. Não se sabia o que era gente, o que era porco. Depois de tudo os animais foram esquartejados e assados, virando um grande banquete que alimentou por um dia aquela horda faminta e furiosa.
Resultado de imagem para homens devorando porcos

 Imagem copiada de parana-online.com.br em 
25/03/15.

terça-feira, 11 de março de 2014

ACERCA DO CONFORTO DA MENTIRA - Na guarita, de Jaque Plucênio



Acerca do conforto da mentira
                                                                                     Jaque Plucênio
          Tenho pensado nos últimos dias em como nós, humanos, nos sentimos desconfortáveis acerca da verdade, seja uma verdade sobre nós mesmos ou sobre os outros. Somos até mesmo tomados por um mal-estar, aversão ou náusea. Alguns de nós não queremos ser o que somos e boa parte da sociedade não quer que alguns de nós sejamos o que somos. Mas não é apenas a questão de ser que incomoda; o ter é bastante perigoso, também, para o conforto da mente do outro.
         É um caso em que o não-ser e o não-ter tornam a vida em sociedade possível, sem grandes julgamentos, apontamentos e rejeições. Geralmente, apesar disso, todos sabem o que somos e muito mais nós mesmos, é claro, e é isso mesmo que significa compreender que determinada mentira é mais confortável que qualquer verdade.
         Não, não. Muitas vezes cobrimos os ouvidos, fechamos os olhos e seguimos adiante com a mentira do outro. Não é fácil ter que formar juízo ou tomar decisões se o outro, quebrando as regras do bom andamento da vida em grupo, resolver abrir o bico e falar a verdade; a pior ou a menor delas, não importa. O desconforto da verdade nos leva à beira do abismo. É ali que precisamos fazer a escolha. Ficamos seguros aqui no alto, nesse não-ser em que pisamos com segurança, ou mergulhamos no ser do outro, sabendo que talvez não suportemos o tombo?
         Principalmente nessa era de redes sociais percebemos que é fácil vender o que não somos e não ser o que somos. Aparentemente, as pessoas tranquilizam-se mais com o que não é dito, com nossas omissões, e pouco se assustam quando largamos uma mentirinha “inocente” ou até mesmo quando vivemos uma vida de mentiras, ou seja, uma vida que não é. Ou que não tem.
         Sobre nós mesmos, são principalmente nossos pais os que menos se interessam em ouvir nossas verdades. Muitos respiram aliviados com a mentira ou a omissão do filho, pensando: “Que bom, eu posso viver com grandes mentiras, mas não suportaria uma pequena verdade.”
         E a coisa mais engraçada – ou absurda – sobre a mentira é que o motivo dela ser confortável é o fato de que isso “força” o mentiroso a manter a máscara e um estilo de vida que não possui, para satisfazer aos outros, como se eles – e suas opiniões – fossem a essência de sua própria existência.
         Assim, creio que se um dia os homens descobrirem que Deus não existe, eles continuarão acreditando, porque isso sempre será mais confortável. Já pensaram se não houver nada depois daqui?
 

Para escrever este livro, foi necessário mobilizar uma grande coragem, que será igualmente indispensável para que alguém o leia. As teorias e provas, que ele contém, não se ajustam à Arqueologia tradicional, tão laboriosamente desenvolvida e tão solidamente cimentada. Os especialistas do ramo não o levarão a sério ou o colocarão na lista negra das obras que melhor seria não mencionar. De sua parte, os leigos preferirão encaramujar-se em seu mundo familiar quando verificarem que a descoberta do passado envolve maiores mistérios e requer mais audácia que uma antevisão do futuro.
Não obstante, uma coisa é certa: há algo de errado no passado longínquo, que dista de nós milhares e milhões de anos. Esse passado repleto de deuses desconhecidos, que visitaram a Terra primitiva em espaçonaves por eles tripuladas...
Há algo errado em nossa Arqueologia! Porque estamos encontrando acumuladores elétricos que datam de muitos milhares de anos. Porque nos defrontamos com seres estranhos, que usam trajes espaciais com fechos de platina. Porque achamos números com quinze casas - e nenhum computador os colocou ali. Mas de que maneira aqueles homens primitivos puderam adquirir a capacidade de criar tantas coisas inacreditáveis?
Há algo errado também no campo da religião. Em regra, todas elas prometem ajuda e salvação à humanidade. Os deuses primitivos fizeram igualmente as mesmas promessas. Por que não as cumpriram? Por que usaram armas avançadíssimas para combater atrasadíssimos povos? E por que planejaram seu aniquilamento?
Familiarizemo-nos com a perspectiva de que nosso mundo de idéias, forjado e desenvolvido durante milênios, está para desmoronar. Poucos anos de acurada pesquisa foram suficientes para arrasar os redutos mentais em que tranqüilamente vivíamos. Conhecimentos até há pouco escondidos em bibliotecas e arquivos de sociedades secretas estão sendo agora revelados. A era das conquistas espaciais já não comporta segredos. As incursões no espaço, que visam a descoberta de outros corpos celestes, também nos levam ao passado longínquo. Deuses e sacerdotes, reis e heróis emergem de trevas abissais... Podemos intimá-los a desvendarem seus segredos, pois temos meios de tudo descobrir sobre nosso passado, sem quaisquer hiatos, se a isso realmente nos dispusermos.
Modernos laboratórios devem tomar a seu cargo toda pesquisa de natureza arqueológica. Os arqueólogos devem examinar com aparelhos hipersensíveis de medição as áreas em que se desenvolveram civilizações há muito extintas.
Sacerdotes, que buscam a verdade, têm de voltar, uma vez mais, a duvidar de tudo quanto está firmemente estabelecido.
Os deuses do nebuloso passado deixaram inumeráveis pistas que só hoje podemos decifrar e interpretar, pela primeira vez, porque o problema das viagens interplanetárias, tão característico de nossa época, já não era problema, mas realidade rotineira, para homens que viveram há milhares de anos. Pois eu afirmo que nossos antepassados receberam visitas do espaço sideral na mais recuada Antiguidade, embora não me seja ainda possível determinar a identidade dessas inteligências extraterrestres, ou o ponto exato de sua origem no Universo. Não obstante, proclamo que aqueles "estranhos" aniquilaram parte da humanidade existente na época e produziram um novo - senão o primeiro - Homo sapiens.
Esta afirmativa é revolucionária. Abala até os alicerces um arcabouço mental que parecia tão solidamente construído. Meu objetivo é tentar fornecer provas de sua veracidade.
(ERICH VON DÄNIKEN, em Eram os deuses astronautas?, Círculo do Livro, São Paulo, 1968, p. VII e VIII, Introdução).

O que há? Existe um Deus? Ou deuses? Ou seres superiores, apenas astronautas extraterrestres? Qual a verdade que virá? Qual a que fenecerá? Qual permanecerá? Será que acreditar que há uma inteligência que determinou tudo como aí está é o que não poderá ser questionado? Isso é o que há? Nós poderíamos ser gerados de um nada ininteligível?
O medo talvez nos imobilize, nos faça não querer ver, mas a curiosidade nos fará dar um passo adiante. E outro, e outro, e outro, e outro...

 

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A COLUNA "NA GUARITA" RETORNA!

Finalmente, depois de alguns meses, eis que retorno a escrever no Jornal de Rio Pardo.
Abaixo, texto enviado hoje para a edição de 09 de agosto de 2013:

Da finalidade da filosofia
                                                                                         Jaque Plucênio
          Pediram-me para definir melhor filosofia, outro dia. Primeiro pensei: “Quem sou eu, para fazer isso?”; depois disso, analisando melhor a questão, deduzi que, na verdade, a pessoa quer entender o seguinte: “Para que filosofia?”
          Filosofia não tem sinônimos, tem conceitos, infindos. E sobre ela é muito pouco dizer que é uma ferramenta para melhor pensar. Pensar é inerente ao humano, e sempre haverá o tolo e o sábio, mas o que mais existe são os medianos. Filósofos arrogantes dirão que a filosofia não servirá para os tolos ou até mesmo para os de inteligência média. Mas para quem ela servirá, então? Os sábios não a podem detê-la - cometeriam o crime de não distribuí-la -, pois filosofar é ato livre.
          Filosofia é o próprio pensamento, e não possui amarras. A maior diferença entre um pensar qualquer, de senso comum, e o pensar filosófico, racional, é que o primeiro não duvida (é crédulo) e não se preocupa com a verdade, enquanto o segundo põe em dúvida e caça, incessantemente, a verdade, embora muitas vezes só acerte o tiro de raspão.
          Por isso a filosofia tem um momento de nascimento: século VI a.C. Antes disso, tudo era pensado de forma mítica, ou seja, a base do pensamento era puramente religiosa, era o que fundamentava toda causa e, claro, toda consequência de fenômenos da natureza. Hoje, após milhares de anos parindo filhos importantes para o mundo: física, biologia, medicina, astronomia, psicologia, política, ética, matemática, sociologia e etc., a filosofia – a ciência que não é ciência - quer continuar sendo o que ela é: a dúvida e a procura, a libertária do misticismo, a moderadora, a eliminadora do fanatismo, a destruidora da intolerância, a redentora das mentes. Para mim, isso? Claro! Ou para você, também. A filosofia não é o que está estabelecido, não é o que já foi dito, não é o que se determina. Ela é sempre além, porque há sempre algo mais e a verdade não chega nunca. Acomode-se, e qualquer tolice que você chama de verdade poderá engoli-lo rapidinho. Um exemplo: pense no monte de tolices que querem te vender no facebook, como verdade. Se você comprar uma dessas inverdades, é você que está sendo comprado. Filosofar é um ato de se dizer “eu aceito”, ou “eu não aceito” munido da razão. Assim, é preciso cuidado ao curtir e compartilhar coisas que te oferecem com tanta facilidade, mas sem fundamentação, pois essa é uma maneira bem nova de prostituir a tua mente.
          “A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo.”, afirmou Merleau-Ponty. Mas eu conseguiria expor o que cada filósofo diz sobre a filosofia? Não. Porém, não afaste-se nunca da ideia de que filosofar é um pensar racional – que ainda hoje pode salvar uma pobre alma desesperada das inúmeras religiões que vendem um lugar no céu, a apenas quinze minutos do trono de Deus. Boa é essa definição, de Maria Helena Pires Martins e Maria Lúcia de Arruda Aranha: “... a filosofia é a possibilidade de transcendência humana, ou seja, a capacidade de superar a situação dada e não-escolhida. Pela transcendência, a pessoa surge como ser de projeto, capaz de ser livre e de construir o seu destino. O distanciamento é justamente o que provoca a nossa aproximação maior com a vida. (...) A filosofia impede a estagnação.”
          Mais não pode ser dito; quantas páginas eu precisaria? Mas creio que a partir de um começo você já pode seguir adiante e produzir teu próprio filosofar. Pra onde, mesmo, isso leva? Para a vida.



DOR!

Meus amigos, perdão!
Foi a dor que me afastou daqui! Eu mal podia tocar num teclado de computador.
Uma desagradável epicondilite lateral deixou-me prostrada. Uma coisa esquisita que,
com esse nome, nunca havia ouvido falar. Ainda estou em tratamento e, talvez, se a
recuperação não for total, eu tenha de abandonar certas atividades. Morrerei! Joguem
minhas cinzas no mar, droga, se isso acontecer!

segunda-feira, 1 de julho de 2013

ACORDANDO A MORTE

ACORDANDO A MORTE

Como dormia tranquila, velha e sonolenta.
Tinha a cara suja, escura e nojenta.
Há anos dormia desatenta do tempo de minha vida.
Louca, solitária e vagabunda, adiava minha partida.
Não venha, então, criatura triste e feia!
Deixa-me a respirar, a sentir os pés na areia!
Não preciso de ti, pútrida imortal!
Não quero teu beijo fétido, frio e fatal.
Dorme, dorme tranquila teu sono gelado.
Esquece minha imperceptível existência;
Mantém tua inexplicável paciência.
Eu não vou para ti, fantasmagórico ser abandonado.
Quê!?! Acorda, maldita, acorda com meus gritos!
Por que caminha, agora, com pressa, em minha direção?
Nossa paixão é loucura, devaneios, mitos!
Não, afasta tua mão do meu coração!
Maldita, dormias! Por que sempre chegas?
Não podes poupar-me, eu, que te deixei em paz?
A angústia embalada em tuas mãos negras;
O sopro de vida, nunca mais, nunca mais.
                                 JAQUE PLUCÊNIO (010713)



MEU ABRAÇO AOS VISITANTES DE JUNHO!

Olá, amigos e irmãos que de vez em quando vêm até aqui dar uma espiadinha - o que muito me honra! -, um grande abraço meu a vocês todos!

ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA!
Torre do Diabo, Wyoming
(imagem copiado do site www.viajandoblog.com.br)

BRASIL!
Fortaleza, Ceará
(imagem copiada do site www.ionline.com.br)

RÚSSIA!
Vulcão de Kamchatka
(Imagem copiada do site www.jogospuzzle.com)

UCRÂNIA!
Túnel do amor de Klevan
(Imagem copiada de www.viajandoblog.com.br)

ALEMANHA!
Floresta
(imagem copiada de www.ultradownloads.com.br)

REINO UNIDO!
Giant's Causeway, Irlanda do Norte
(imagem copiada de www.viajeaqui.abril.com.br)

DINAMARCA!
Ilhas Faroe
(Imagem copiada de www.pt.hallpic.com)

PORTUGAL!
Portas de Ródão, Rio Tejo
(Imagem copiada de www.portugalfotografiaaerea.blogspot.com.br)

ARGENTINA!
Patagônia
(Imagem copiada de www.ab-imagensincriveis.blogspot.com.br)

ESPANHA!
Caminho de Santiago de Compostela
(imagem copiada de www.embarquenaviagem.com)


ÍNDIA!
Jaipur, Índia
(Imagem copiada de www.mensageirosdaagua.org)

PAQUISTÃO!
Montanha de Baltoro
(Imagem copiada de www.ultradownloads.com.br)













segunda-feira, 24 de junho de 2013

O MUNDO SCHOPENHAUERIANO COMO VONTADE E REPRESENTAÇÃO MATERIALIZADO NO SER E POESIA DE GEORG TRAKL - Continuação VI

Este estudo poderia ser facilitado se, ao invés de Schopenhauer, tivesse sido escolhido o filósofo Martin Heidegger (1889-1976), admirador da obra do poeta alemão Hölderlin, cujos versos inspiraram-lhe estudos e o desejo de unir filosofia e poesia. Mas, que algo novo poderia ser discutido, visto que existem inúmeros tratados da filosofia de Heidegger com a  poesia de Hölderlin? No entanto, isso não impede que se faça uso do estudo de poética desse filósofo da II Grande Guerra. Segundo Borges (Donaldo de Assis Borges é docente da Universidade de Franca e do Centro Universitário de Franca - Uni-FACEF) e Souza (Marco Antonio de Souza, docente da Universidade de Franca) (2010, http://www.meuartigo.brasilescola.com/filosofia/a-poetica-heidegger.htm), no artigo A poética de Heidegger, esse considerava que "[..] a verdade como clareira e ocultação do ente, acontece na medida em que se poetiza."Pensamento filosófico e linguagem seriam bastante importantes na trajetória do pensar. Ainda conforme Borges e Souza, entende-se no filósofo estudado que "por isso, a filosofia e a poesia estão tão intrinsecamente relacionadas na linguagem poética de Heidegger." Eles também reforçam que a poética era um dos métodos discursivos para Aristóteles que, bem se sabe, produziu uma obra com o nome A poética (obra escrita entre 335 e 323 a.C.; trata das várias espécies poéticas e, em especial, da tragédia. Para o filósofo grego a poesia era um sistema de imitação da realidade que continha uma verdade em potência, ou seja, sobre uma realidade que poderia vir a ser - ou ser de outro modo -, o que empresta ao discurso poético tanta importância quanto há em uma obra histórica. Além disso, o efeito de catarse da poesia sobre o sujeito afirma o valor da mesma como elemento filosófico.). Os dois afirmam que
Heidegger sabe que não se pode explicar os "sentimentos", mas é possível usando-se linguagem e imagem figuradas para provocar no leitor ou ouvinte um modelo destes sentimentos que assolam a alma poética. A sua linguagem oferece fórmulas representativas e descritivas de uma realidade interna, consegue reproduzir a sua volta, naqueles que o assimilam, uma idéia, às vezes vaga, outras vezes forte das suas próprias emoções.
Heidegger era capaz de perceber linguagem poética no filosofar e vice-versa. E acreditava que isso era possível e interessante como método para alcançar a verdade - ou, no mínimo, para produzir conhecimento. E, provavelmente, em se falando de verdade e conhecimento, se esteja tratando de coisas iguais. Afirmar "eu conheço" é admitir saber a verdade de algo. É um "saber-o-mundo", com certeza. Heidegger foi além. Ele também produziu um tratado sobre a poesia de Georg Trakl. Heidegger (2011, http://www.martin-heidegger.nt/Textos/html/Trakl.html) afirma que "o diálogo do pensar com o poetizar tem a finalidade de evocar a essência da linguagem para que os mortais reaprendam a habitar a linguagem." Também diz que "o poema de um poeta mantém-se não dito." Ora, Heidegger procura o lugar da poesia de Trakl, e sente que esse lugar é a própria terra, no sentido de pátria, lar. Sabe a a alma cantada nos versos deTrakl procura habitar essa terra e nela não ser uma desconhecida. Pelo contrário, é nela que o ser precisa encontrar-se. Quanto a isso, o filósofo Heidegger escreve que "a poesia de Trakl canta o canto da alma, que 'estranho sobre a terra', tem antes de tudo, de alcançar a terra enquanto pátria mais calma do género (sic) que regressa a casa.", acrescentando que "a sua poesia canta o destino do cunho que arrasta o género humano para a sua essência ainda reservada, i.e. (sic), que o salva." Sobre o não dito, ocorre que a poesia deTrakl, obscurecida, não diz o esperado ou entendido, diz outra coisa, acabando por deixar de dizer; mas essa é mais a visão do leitor do que a intenção do poeta. Isso ocorre muito frequentemente com a filosofia.
Canta Trakl (2010, p. 93), em Primavera del alma:
Más oscuras bañan las águas los bellos juegos de los peces./Hora de duelo, silente vista del sol;/un alguien extraño es el alma en la tierra. Espiritual crepuscula/el azul sobre el bosque abatido y suena/insistente una triste campana en la aldea; compaña de paz./Silente florece el mirto sobre los bláncos párpados del muerto.
"[...] un alguien extraño es el alma en la tierra." Alguém estranho é a alma sobre a terra. A alma é um estranho sobre a terra, repetirá Heidegger em seu discurso, para reafirmar o valor da poética na linguagem do pensar. É o homem estranho a si mesmo não só em Schopenhauer, mas também em Trakl.

terça-feira, 18 de junho de 2013

COPA DO MUNDO 2014 - Protestos no Brasil

Imagem de Laycer Tomaz/Divulgação - Jornal Zero Hora de 18/06/13
Imagem da TV Globo, 18/06/13

Quem vê nossa juventude, depois de tantos anos, tomando as ruas do país, talvez acredite, mesmo, que o grande motivo para os protestos é o aumento das passagens de coletivos Brasil afora. Na verdade, isso representa apenas o descontentamento do povo com os astronômicos gastos com a Copa do Mundo e com a vergonhosa corrupção entre políticos e empresários.
Vocês, estrangeiros, visitam nosso país e não percebem nosso cansaço. Não é nosso cansaço em andar de ônibus, muitas vezes de pé, apertados e pagando caro por isso. Vocês não veem nosso cansaço com a roubalheira em nosso país. Com a precariedade da saúde, com a deficiência da educação, com a insustentável falta de segurança... Vocês não veem nosso cansaço quando abrimos um sorriso ou damos uma gargalhada, porque rimos- como idiotas que somos - de nós mesmos! Um riso falso e burro de quem acredita que mora num "país abençoado por Deus e que Deus é brasileiro."
Vocês vêm e se encantam com as belezas naturais, entre elas as mulheres, e nem percebem que a gente é roubada diariamente em milhões de reais pela ala bandida da política, pelas aves de rapina que nos roubam e nos roubam mais ainda através por superfaturados estádios de futebol erguidos para a Copa do Mundo de 2014. Vocês vem mas não nos veem. Não venham, juntem-se a nossa causa. Nosso país é uma vergonha. Não visitem países corruptos.
Imagem copiada do site www.transitomanaus.com.br

Deixa-me triste que entre tantos jovens que acordaram, estejam vândalos, baderneiros que diminuem a legitimidade das manifestações. Sou contra a violência, de ambos os lados. Ainda bem que bandeiras de partidos têm sido suprimidas, afinal de contas, esses eventos foram marcados e cresceram nas redes sociais. O que mais espero é que a juventude lembre que não é apenas baixando o preço das tarifas de ônibus que os problemas do nosso país - que finge estar erradicando a pobreza com as dezenas de "esmolas" estimuladoras da preguiça - ficarão menores. Nós queremos o dinheiro público para o povo, para a saúde do povo, para a segurança do povo, para a educação do povo. Nós, cidadãos comuns não ganhamos tanto quanto os políticos, muito menos tanto quanto os corruptos e menos ainda quanto os famosos jogadores brasileiros de futebol que as pessoas sem consciência política idolatram.
Imagem de Vinícius Roratto - Correio do Povo

Imagem copiada de www.portalguaira.com




segunda-feira, 17 de junho de 2013

CLARICE LISPECTOR - Crônica publicada na Revista Casa e Jardim nº 69, de 1960 e reeditada no nº 701, de junho de 2013

Interessante. Recebo a revista e, na contra-capa, uma "falsa" antiga publicação de Casa e Jardim. Abro. Há uma crônica de Clarice Lispector - minha musa, minha maior escritora, desde antes de tudo até sempre - na p. 4.
Creio que o que ela escreveu serviu de luz para seu romance, "A paixão segundo G.H.", de 1964, em que ela trava uma luta consigo mesma e com uma... barata. É uma batalha em que ela precisa vencer a si mesma e ao inseto, mesmo que para isso tenha de prová-lo. Senti o gosto de si e da coisa que repugna. Sentir-se gente e sentir-se bicho. Sentir-se nada e alguma coisa pra tentar voltar a ser... ser vivo.
Se Clarice Lispector tivesse me perguntado, eu saberia dizer o gosto que tem uma barata. Se bem que a que eu tive a infelicidade de comer estava bem assadinha dentro de um pão francês. Eu era criança, não tive uma grande provação existencial, naquele momento, mas me senti tão coisa quanto sentia como coisa a barata.

A QUINTA HISTÓRIA
Clarice Lispector

Esta história poderia chamar-se "As Estátuas". Outro nome possível é "O Assassinato". E também "Como Matar Baratas."
Farei então três histórias verdadeiras porque nenhuma delas mente a outra. Embora uma única, seriam mil e uma - se mil e uma páginas e mil e uma noite me dessem.
A primeira, "Como Matar Baratas", começa assim: queixei-me de baratas. Uma senhora ouviu-me a queixa. Deu-me a receita de como acabar com elas. Que misturasse, em partes iguais, açúcar, farinha e gêsso. O remédio as atrairia como comida que também era. Morreriam. Assim fiz. Realmente morreram. A outra história é a primeira mesmo e se chama "O Assassinato". Começa assim: queixei-me de baratas. Uma senhora ouviu-me. Segue-se a receita. E então entra o assassinato. A verdade é que só abstratamente me havia queixado de baratas, que nem minha eram: pertenciam a quem de direito, e escalavam os canos do edifício até nosso lar. Foi na hora de fazer a mistura que elas se individualizaram. Comecei a medir e pesar ingredientes numa concentração um pouco mais intensa; um vago rancor me tomara, um senso de ultraje. De dias as baratas eram invisíveis. ninguém acreditaria no mal secreto que roía casa tão tranqüila. Mas se elas, como os males secretos, dormiam de dia, ali estava eu a preparar-lhes o veneno da noite. Fria, meticulosa, preparava o elixir da longa morte.  Mêdo e rancor guiavam-me. Agora eu só queria gèlidamente uma coisa: matar cada barata que existe. Baratas sobem pelos canos enquanto a gente, cansada, sonha. A receita estava pronta. Tão bem espalhei o pó que nem se via, como para baratas espertas como eu. Horas depois, no silêncio da casa, da cama imaginei-as subindo uma a uma até a área de serviço, onde o escuro dormia - só as camisas alertas no varal. Acordei em sobressalto, era madrugada. Atravessei a cozinha. E no chão da área, lá estavam elas, duras. Durante a noite eu matara. Amanhecia. Um galo cantou.
A terceira história que ora se inicia é a das "Estátuas". Começa dizendo que eu me queixara de baratas. Depois vem a mesma senhora. Até o ponto em que, na madrugada seguinte, acordo. Ainda sonolenta, atravesso a cozinha. Mais sonolenta ainda está a área, na sua longa perspectiva de ladrilhos. E à luz primeira, num límpido arroxeado que distancia tudo, vejo no chão sombras e brancuras. Dezenas de estátuas de baratas espalham-se rígidas. Endurecidas de dentro para fora. Testemunho o primeiro alvorecer de Pompéia. Revejo-lhes a última noite, na orgia do escuro. Em algumas o gêsso terá endurecido aos poucos, e, com movimentos cada vez mais penosos, elas ainda tentam fugir de dentro de si mesmas. Até que de pedra se tornam, em espanto. Outras, assaltadas pelo próprio âmago, sem nem sequer a intuição de um molde interno que se petrifica - de súbito se cristalizam, assim como a palavra é cortada da bôca. Uma, azulada, terá sentido: "quem olhar para dentro, vira estátua de sal". De minha altura de gente olho a derrocada de um mundo menor. Começa a amanhecer. Uma ou outra antena escura freme sêca à brisa. Da história anterior, canta um galo.
A quarta narrativa inaugura nova era no lar. Começa como se sabe: queixei-me de baratas. Até o ponto em que vejo os monumentos de gêsso. Mas olho também para os canos, por onde à noite renovar-se-á uma povoação lenta e viva. Teria eu então que renovar tôdas as noites o açúcar letal? como quem não dorme mais sem o ritmo de um narcótico. E tôdas as madrugadas levantar-me-ia sonâmbula? viciada na tortura de procurar no pavilhão as estátuas que minha noite cansada erguia. Senti um mau prazer na visão de uma vida dupla de feiticeira, e também o aviso do gêsso que seca. E é por isso que hoje, com o orgulho da virtude, ostento secretamente no coração uma placa: "Esta casa foi detetizada".
A quinta história chama-se "Uma alma refeita". Começa assim: queixei-me de baratas.

Estranho... Notaram que ela não dá nome à quarta narrativa? Até que poderia ter recebido o nome de "O feitiço do gesso". Que ousadia, a minha.


segunda-feira, 3 de junho de 2013

ABRAÇOS AO IRMÃOS QUE PASSARAM POR AQUI!

Abraços fraternos para

Rússia

Ucrânia

Japão

Alemanha

Estados Unidos da América

Brasil

MUNDOS

Um elevador lento e de ferragens Belle Époque
me leva ao antepenúltimo andar do Céu,
cheio de espelhos baços e de poltronas como o hall
de qualquer um antigo Grande Hotel,

mas deserto, deliciosamente deserto
de jornais falados e outros fantasmas da TV,
pois só se vê, ali, o que ali se vê
e só se escuta mesmo o que está bem perto:

é um mundo nosso, de tocar com os dedos,
não este - onde a gente nunca está, ao certo,
no lugar em que está o próprio corpo

mas noutra parte, sempre do lado de lá!
não, não este mundo - onde um perfil é paralelo ao outro
e onde nenhum olhar jamais encontrará...

(Mário Quintana, poeta brasileiro, em Quintana de bolso - rua dos cataventos e outros poemas, pela LePM, Porto Alegre, 2008, p. 48).